Ouvi primeiro o ruído de cascos pisando a grama, mas continuei
deitado de bruços na esteira que havia estendido ao lado da
barraca. Senti nitidamente o cheiro acre, muito próximo. Virei-me
devagar, abri os olhos. O cavalo erguia-se interminável à minha
frente. Em cima dele havia uma espingarda apontada para mim e
atrás da espingarda um velhinho de chapéu de palha, que disse logo
o seguinte:*
- Arreda o pé daqui, forasteiro!
- Mas... só estou descansando, meu senhor - falei gaguejando, muito assustado.
O velhinho desceu do cavalo. Percebi então que era corcunda, mas tinha um ar valente e músculos rígidos.
- Essas terras são propriedades minhas e nunca irei de deixar que elas sejam invadidas - meneou a espingarda, ameaçando atirar. - Levante-se já daí eu ou mando bala nessa tua cabeça chata.
- Meu caro! Um senhor como você não deveria ficar se colocando em perigos desse modo. Não acha que já passou da idade de sair para caçar?
Pensei em soltar uma gargalhada, no entanto, antes mesmo de dizer tal insulto pude ouvir um som estrondoso, como um tiro. Estremeci, fiquei estático, esperando a dor e o sangue, procurando o buraco na pele. Foi só então que percebi: não havia sido atingido. Não importava, aquela minha emboscada já estava saindo do rumo, o perigo era evidente. Levantei rapidamente, apertei o passo na direção oposta ao velho, mas acabei esbarrando em algo, ou em alguém. Senti um ar morno soprar em meu pescoço, ouvi a respiração pesada, quase ofegante. Alguém que estava parado atrás de mim.
- Acalme-se, Juarez, sou eu.
- Oh, meu caro, que susto me destes. Por um instante pensei que fosse morrer!
- E vão é morrer mesmo, cabras safados! - O velho continuava com o cano da espingarda mirado na direção dos meus olhos.
Nesse instante gelei. Meu amigo e eu não teríamos outra chance, havíamos sido tolos e subestimado nossa vítima. Fechei os olhos pedindo a Deus perdão por todos os meus roubos e furtos. De repente, ouvi um outro estrondo. Outro tiro!
Abri os olhos pra ver pela última vez aquele matagal. Não era exatamente o que eu queria ter gravado em meus olhos quando morresse, mas não era de todo o mal. O que, porém, vi foi meu outro parceiro de bando chegando por trás do velho, imobilizando-o e levantando sua espingarda ao alto. Um tiro no vento! - pensei.
- Seus charlatões desgraçados! Vocês vão me pagar, vão pagar caro. Chamarei meus capangas e mandarei eles darem uma surra das boas em vocês três.
- Poupe seus esforços, já estaremos longe demais para sermos pegos - meti um ponta pé nos joelhos do homem e roubei sua arma.
Com ele caído no chão, indefeso e desarmado, pensamos e agimos rápido. Pegamos o cavalo e todos os demais pertences do senhor de terras e, num piscar de olhos, abandonamos o acampamento que havíamos montado. Me sentia mais que aliviado, fugi da morte e ainda saí com a "recompensa".
Samanta Geraldini e Josyara Torres
*O primeiro parágrafo foi retirado do texto "Crítica da Razão Pura", de Wander Piroli. Caso tenha interesse em ler a história original, pode encontrá-la nesse endereço: http://www.releituras.com/wpiroli_menu.asp
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