Apresentação

Para quem curte poemas, contos, lendas e histórias, aprecia uma boa música e é apaixonado por arte, aqui é um ótimo lugar para encontrar tudo isso de uma única vez. Seja bem-vindo!

segunda-feira, 30 de junho de 2014

O Banquete dos Sonhos

Pensei primeiro em fazer aqui um lugar dedicado àqueles contos sombrios que vivem passando pela minha mente e que eu nunca escrevo. Mas então, quando finalmente decidi escrevê-los, a única coisa que pude colocar no papel foi um texto bem mais sentimental. Pra ser sincera, a ideia era fazer algo bem mais cômico, mas às vezes minha mão não obedece meu cérebro e vai escrevendo o que tem vontade. Melhor ainda, o cérebro entra na dela e começa a ajudar. O importante é que saiu um texto, e eu gostaria de colocá-lo aqui como primeiro de muitos (assim espero!). Ei-lo aqui:

      Deus vontade de reunir todos os meus pecados, medos, segredos e equívocos, e convidá-los para um banquete onde o homenageado fosse o Tempo. Nada mais justo, já que foi ele quem me apresentou a todos esses homens de nem tantas qualidades, mas também não só provocadores de malefícios.
      Chamei-os então, imaginando como seria a cena que não tardaria a acontecer: um antigo sonho combatendo, mais que literalmente, uma nova vontade; a reunião daqueles que um dia disseram me amar, mas em outro mostraram um amor que não condizia com o meu - e acho-me no direito de dizer que isso não me fez odiá-los ou tratá-los com indiferença. Ah, o que mais tentei imaginar e não consegui muito bem foi aquele bendito segredo, porque ele não passa de uma forte saudade, infelizmente, de algo que não passou, que sequer aconteceu. Mas fiz um esforço, e o que via era uma Dama de Branco, iluminada, sorrindo, clareando todos à minha e à sua volta, exceto um. Em contrapartida, os pecados ficavam lá, encolhidinhos, se esforçando para não serem vistos. Poxa, será que eles eram tão sujos que não tinham coragem nem de mostrar a cara? Eu queria é vê-los brigando, admitindo seus atos e encarando a verdade, mas eu, no fundo, já sabia que isso não aconteceria.
      E como no banquete de Agaton*, tentei imaginar o que discursariam sobre nosso homenageado: o Tempo. Eu até coloquei um relógio na parede, bem à mostra, e fiquei ouvindo seu tic-tac angustiante que marcava o ir, e somente ir, das horas, da vida. Ali, olhando ele, continuei fantasiando o que poderia acontecer logo mais, ao cair da noite, quando a lua, em longínquo horizonte, tocasse o mar para se aquecer.
      Fui pensando: certamente alguém diria que o tempo foi um castigo, depois de todas as piores escolhas; outro diria que o tempo seria um herói esquecido que, depois de passar, levou consigo a coragem e a valentia; teria também aquele que tentaria provar de todos os modos que o tempo era, nada mais nada menos, que um obstáculo numa corrida maluca que quanto mais tarde você cruzar a linha de chegada melhor. E completariam-no dizendo que o importante é colher aqueles objetos valiosos pelo caminho, como num jogo. Os pecados não fugiriam, mas sutilmente diriam que o tempo é uma criança: no começo parece linda, mas depois acaba perdendo o controle e se rebela. Oh, mas eles sempre seriam inocentes... os erros surgem exatamente por causa da inocência. E finalmente viria ela, a senhorita de branco, excelente em seus discursos. Ela falaria tudo, todos os pontos de vista. Me faria chorar, sorrir, enraivecer, sentir sonos, querer aplaudir de pé. Depois disso, sorriria, apontaria para o relógio e diria:
      - Já chegou a hora, querida!
      Com sua luz levaria todos que ofuscava e deixaria ao meu lado somente aquele que ela não conseguiu superar. No fim das contas, ela que tinha me guiado até ele.
      Então eu mirei o olho no relógio. Meu Deus, estava na hora, não era um sonho. Ouvi a campainha tocando, era ele, o sobrevivente da luz. Pedi pra ele entrar, toda sem jeito. Estava nervosa, ansiosa.
      Mas não veio mais ninguém, mesmo depois de muito esperarmos.
      E agora? Ele era o único que, em momento algum, pude decifrar, ler os pensamentos, prever o que diria. Fechei os olhos e esperei ele falar, mas isso não aconteceu.
      Não sei dizer se o tempo parou ou correu mais rápido, ele já não importava mais pra mim. Eu só sabia que o passado não era mais nada pra mim e, aquele, à minha frente, me fazia segura, apagava minha memória, acordava meu coração e era a maior prova de que, na verdade, assim como o mundo dá voltas, o tempo também dá, e só nos importa saber quem irá estar junto nessa eternidade sem fim.
      Abri os olhos de novo, ainda ouvia a dama dizer:
      - Faça sua hora, querida!
      E eu a fiz!

*Banquete de Agaton: A obra do grande filósofo Platão, denominada "O Banquete", serviu como inspiração para o cenário desse texto e, portanto, decidi citá-la aqui. No texto original, acontece um banquete onde vários homens, dentre ele outro bem conhecido, Sócrates, discursam sobre o deus grego Eros, relacionado ao Amor. Aqui, tomei base disso para dissertar sobre o Tempo, talvez perto de um deus para mim.


As Faces da História

Um blog com esse nome não poderia deixar de ser parada certa para contos, não é mesmo?!
Ainda que tardios, eles estão chegando. São várias faces, algumas macabras, outras tristes, aquelas que nos fazem rir, gargalhar ou sorrir discretamente, e até mesmo as que misturam tudo isso de uma vez só. Você poderá chorar com algo bom ou ruim, aliás, sua interpretação fará muita diferença. E, falando nisso, você pode até não entender nada. Mas, ainda assim, quero que desfrute dos novos textos que vou escrevendo, em conjunto ao "Monólogo de ..." e meus humildes poemas.
Nem tão bons, nem tão ruins, são apenas alguns contos que esvaem da alma e tornam-se legíveis ao mundo. Perdoe-me também o trocadilho com o nome do blog, mas talvez seja porque essa foi a primeira intenção ao criá-lo.
Entre os contos, permitirei também a exploração de outros gêneros literários: crônicas, fábulas, dissertações, até mesmo aqueles textos que não são bem definidos e, aqui e acolá, farei breves comentários e notas que ajudem em seu direcionamento. Mas, não se acanhe na hora de interpretar e use não só a minha como também a sua imaginação, pois meu maior orgulho como escritora é o de poder ver os leitores tornando meus textos ótimos, enquanto, na verdade, eles não passam de palavras estrategicamente colocadas em uma ordem.  
Enfim, vá fundo, mergulhe nesse mundo de loucuras e histórias que, eu sei, você pode tornar sensacional!


domingo, 29 de junho de 2014

Capítulo 11 - 29.06.2014

      De volta, apresento-me novamente com um sonoro "Bom Dia!"
      Como havia avisado no capítulo passado, voltaria a andar e não tinha previsão de paradas. O que não esperava é que ficaria tão empolgada com a jornada que rejeitaria o descanso por várias vezes.
      Bom, hoje acho que ele me obrigou a querê-lo! Não me resta aceitar o que me foi destinado e aproveitar o melhor possível.
      Havia começado minha peça teatral, como devem lembrar, monologada por diversas vozes, mas não soube prosseguir de imediato com a estória um pouco história. Felizmente, andando bem acompanhada como estou, muitas ideias me vieram para conduzi-la. É que estando ao lado de um ser tão sábio como esse, fica impossível não aprender. O único problema é a bobeira que vem junto... Mas como não sou eu quem falará daqui por diante, isso não será um obstáculo.
      Então, veremos o que tem por hoje, meus queridos "eus". Mãos à obra!

Branca: - Diga-me, Serena, você concorda que somos nós quem escolhemos e fazemos nossa família? Gostaria infinitamente de pedir para chamá-la de irmã, contar meus segredos, pedir ajuda...

Serena: - O que te aflige tanto? Branca, você sempre poderá confiar em mim, mas antes deixe-me lhe contar uma coisa:
      O conceito de família é tão precário que me entristece. Alguns dizem "família é quem cria!", enquanto outros enrijecem os punhos e afirmam "você nasceu de mim, é em mim que deve confiar...". Há controvérsias! Uma família fora dos padrões é uma família, assim como aquela que está dentro deles também é. Um grupo de amigos pode ser uma família, ao mesmo tempo que não pode. Duas irmãs que mal se falam, mesmo morando debaixo do mesmo teto, não são uma família, ainda que no conceito original sejam exatamente isso. É porque existem "tipos" de família. Algumas você constrói, outras já são suas desde seu nascimento. 
      Mas deixe-me também dizer outra coisa, Branca, antes que você continue a desabafar. Você pode contar seus segredos para quem desejar, para o mundo inteiro; você também pode me chamar de irmã, de amiga, de confidente... Só não se esqueça que estou sendo um objeto para suas ações, assim como outro seria. A questão é saber qual objeto é melhor escolher para seu arsenal.
      Mas julgo-me uma boa ouvinte. Se quiser contar, conte. Se quiser que eu lhe diga algo específico, direi, ainda que um pouco contrariada. Se quiser que dê minha opinião, darei de bom grado. E se preferir meu silêncio, meu voto de confiança para guardar segredo e ser apenas um objeto para seu alívio, me conformarei e aceitarei. A decisão é sua!

Branca: - Me desculpe perguntar-lhe com tamanho desespero. Talvez não saiba, mas sou racional 99% do tempo, devido minha criação, mas isso me faz deduzir que, por um brevíssimo momento, extravaso e coloco meus sentimentos à mostra. Estou calma agora, e contente! Dos muitos que conheci aqui fora, você me parece a mais sensata, como uma mistura equilibrada de todos os perfis. 
      Confio muito em ti e é por isso que vou com calma. Eu quero a sua ajuda, se for possível, para conhecer mais longe. Será que você poderia me levar a algum lugar que ainda não conheço? Sei que são muitos, não será difícil. Enquanto vamos andando, posso começar a lhe contar um pouco da minha história.
      
Jed (narrador)
      Sorridentes e pensativas, as duas amigas começaram a andar. Branca era uma espécie inocente de ser, mas desejosa de aprender com a vida e com os outros. Comedida, ela não sabia para onde a levavam, mas tinha se instruído bem para saber que estava segura.
      E a menina Branca, que valorizava tanto aquele seu segredo, temia contá-lo de imediato. Sempre dificultando tudo para si, ela queria ser vencedora, mas queria fazer isso sozinha. No entanto, adorava aquela companhia tão sábia e acolhedora. Veremos então, como seguiu essa cena de revelações e grandes avanços.

      Veremos, sim, num próximo dia. É incrível como a história se repete, mas cada vez você a entende de um jeito. Aliás, a vida é engraçada, não?! Mas, enfim, me convidaram para partir, outra hora eu volto para continuar. 

sábado, 21 de junho de 2014

Minha Eterna Estação

Na lagoa que ela jaz nua
Um broto torto
Vai florescer amanhã;

O sol no céu de candura
Com sua luz conduz
Mais uma manhã;

E o relógio e seu ponteiro
Tic-tac-teiam e ateiam
Que o tempo revelará

Um sentir tão bem certeiro,
Mais que o frio ou o brio
De que o amor continuará.

Samanta Geraldini

Hai Kai

Entrelaçou com jeitinho
Minha mão na sua
E me deu o seu carinho.

Samanta Geraldini

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Cônjugue(-me)

PARTE 1 
Eu tentei correr
Tu conseguiste me conter
Ele não soube o que fazer

Eu tentei despistar
Tu conseguiste me encontrar
Ele não soube como parar

Eu tentei fugir
Tu conseguiste me perseguir
Ele não soube partir

Eu me doei ao amor
Tu se doou ao amor
Ele nos unificou
E nosso amor se concretizou

PARTE 2
Nós queremos viver
Vós sois nosso sofrer
Que Eles podem prever

Nós queremos ficar
Vós sois nosso lar
Que Eles podem roubar

Nós queremos nos unir
Vós sois nosso ruir
Que Eles podem coibir

Nós faremos amor
Vós chorareis a dor
Eles pregarão o horror
E o mundo se acabará
Quando o sol se pôr.

Samanta Geraldini

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Capítulo 10 - 05.06.2014

      Parando um pouco de escrever para olhar melhor ao redor e apreciar o local onde fiz minha pausa, cheguei a conclusão de que estou em um dos lugares mais belos que posso imaginar. Esteticamente não há tanto o que citar, mas a sensação que esse "paraíso" me transmite é maravilhosa.
      Ainda que saturada de vozes e outros "eus" que vêm andando comigo como se fossem minha bagagem, me sinto leve, e ouso dizer que o sol brilha inteiramente, em quem andava a minha frente gritando seu decoroso "Abram Alas!". Ah, e como ele brilha, ele fez tão bem a sua parte. Agora estamos aqui sentados sobre nossos sonhos e desejos que em muitos momentos imaginei e supliquei para que fossem iguais. Ele andou tanto quanto eu, merece também o descanso que eu providenciei para mim. Até mais, pelo menos na minha concepção de que os atos dos outros sempre são mais magnânimos que os meus, e que estarmos lado a lado é somente um prêmio meu. Uma estranha e gostosa história em que um faz a prova e que o outro recebe o prêmio, mas nenhum se sente prejudicado.
      Eu até poderia valer-me dessa disposição imensa que me controla e transcrever lindas e puras emoções, poética como gosto de ser e de poder ver serem comigo, porém deixarei essa oportunidade para mais adiante, momento em que, presumo, estarei ainda mais enfeitiçada pelo que talvez pensem ser meu próprio feitiço, mas não é. Decidi que essa será a última observação devanêica realizada antes de andar mais um pouco. Será uma grande mistura de temas, mas que acabarão se colidindo e provando que não são tão heterogêneas assim.
      Sonhos, regras, curiosidade, coragem e descobertas. Essa é a linha de raciocínio que seguirei, desde já avisando que não será concluída, nem mesmo chegará à metade. É somente uma breve apresentação que, por sinal, deixarei por conta de alguns personagens loucos para atuar e que finalmente terão sua chance no palco. E pra felicidade deles, digo mais, terão muitas outras oportunidades daqui por diante, pois acho que cheguei num ponto em que sozinha será difícil monologar. Sim, muitas vozes, um monólogo. Faça um esforço para ver sentido nisso, e, se ainda assim não o ver, finja!
      Voltarei lá no comecinho, serei protagonista ainda, mas dividirei meu espaço. A hora do espetáculo chegou!

 Jed (narrador)
       Era [uma vez] uma pedra, que um dia se encheu de água. A água "cresceu", aprendeu a "falar", e toda vez que lembra disso, de quem fez isso, ensinou isso, é consumida por uma desmedida necessidade de agradecer, mas além de tudo aproveitar esse dom que lhe foi dado. No entanto, mesmo depois de grande, essa água não é totalmente livre e preparada para tudo. Cheia de restrições, ela vive num pequeno mundo cheio de regras e limitações; ela é tímida e lotada de manias que acabam lhe dando um certo charme, ou então muitos problemas.
      Não custa dizer, todavia, que de uns tempos pra cá ela percebeu nascer dentro de si uma grande curiosidade, e por mais tímida que seja, ela foi lembrando do que aprendeu e se esforçou a tomar decisões distantes de seu porto seguro.
      Fez tão bem que conseguiu escapar do seu castelo pedregoso e viu o mundo lá fora. Nossa, como aquilo foi importante, foi o último incentivo que ela precisava.
      Agora, sempre que pode, ela passa pela fenda iluminada que existe na rocha que habita. Muito bem equipada, ela só se dá o luxo de alguns passos e poucos minutos, mas é uma grande evolução. Lá fora, ela conversa com uma das suas primeiras amigas, Serena, uma miúda criatura que fala pouco, mas quando fala... ah, ela tem o poder de mudar o mundo. Estão conversando agora:

Branca: - Diga-me, Serena, você concorda que somos nós quem escolhemos e fazemos nossa família? Gostaria infinitamente de pedir para chamá-la de irmã, contar meus segredos, pedir ajuda...

      Levanto-me agora, seguirei andando. Preciso ir em busca de uma boa forma de dar vazão à imaginação. Não sou daquelas que escreve a própria história em um dia.

 

quarta-feira, 4 de junho de 2014

A Nota Mais Alta

O vento soprou
Pelos seus lábios tão sábios
E o tempo parou.

Samanta Geraldini

Capítulo 9 - 03 e 04.06.2014

      Estou aqui esperando ritualmente dar meia noite para completar meu terceiro dia consecutivo de monólogo. Peguei o gosto de novo, acho que escrever aqui deveria ser um hábito mais do que necessário. Tomei a liberdade de começar antes do ponteiro saltitar para o lado, pegando emprestadas as palavras do capítulo anterior, pois como sei que só termino isso amanhã, está tudo bem.
      Tenho algumas coisas a serem ditas, mas estou meio confusa, não sei por onde começar. Supondo que eu consiga manter esse hábito de escrever por mais quatro dias, creio que registraria tudo aquilo que planejo atualmente. Supondo também que aconteça o mesmo que aconteceu depois de eu ter escrito uma folha - o que eram 2 ideias, depois de 1 ser exposta, passaram a ser 3 -, digo que precisaria de mais um mês e pelo menos um caderno em branco para escrever as ideias que virão. Eles por eles, melhor eu saciar essa minha necessidade.
      Primeiro assunto, por favor comparecer ao setor de debates...
      Andei pensando numa coisa que me disseram há uns cinco meses.
      Perguntaram-me: Já se apaixonou?
      E eu respondi: Por incrível que pareça, nunca!
      Espantado, quem me falava alegou, com toda a sua convicção de poeta apaixonado: Impossível, os textos que escreve são românticos demais para tal afirmação.
      A conversa ficou por isso mesmo.
      Hum... mas sabe quando a gente está lavando a alma debaixo do chuveiro e é totalmente impossível deixar de pensar na vida? Bom, nessas horas eu também costumo cantar, e essa é uma mistura perigosa e muito eficiente.
Eu sou poeta e não aprendi a amar!
      Frase nada romântica e tudo poética, meu Pai do Céu. Eu gostava de usar ela pra me definir. Ai, ai, mas quando a gente fica com o coração mole, tudo parece ter outro sentido. Sentimentos aflorados, uma vontade imensa de gritar ao mundo... vai dizer que não sabia que é por isso que estou escrevendo adoidada?
     Foi por tanto me imaginar assim que conclui um pensamento há anos inacabado. No fim hei de concordar, eu estava apaixonada quando comecei a escrever, há dois anos e alguma coisa. Mas falar de "apaixonado" é que eu não concordo, tá mais pra "enamorado". Paixão e amor são coisas bem diferentes. E falo claramente aqui, eu AMAVA. Letras garrafais pra ficar melhor a compreensão...
     Agora, só uma coisinha: pare pra pensar no que é o amor. Pessoas tentando defini-lo enquanto eu o sinto; pessoas rotulando-o enquanto eu tento simplesmente demonstrá-lo. Ah, por favor, é de conhecimento geral que para os japoneses há três tipos de amor né? No meu ver, há até mais. 
     Amor é um sentimento comum, mas raro. Parece difícil entender essa afirmação, mas é assim que vejo. Amor, aquele próximo da amizade ou da paixão, tem muito por aí. Arrisco a dizer que todo mundo sente. Amor, aquele que ninguém consegue definir com exatidão, ah, esse daí não é todo mundo que já conheceu não. Nem sei se eu já conheci, é bem confuso explicar isso. Mas o importante é, apesar de gênero, cor, idade ou classe social, os nossos múltiplos amores são (i)limitadas fontes de inspiração.
      Aproveitei uma delas por bastante tempo, mas tá vendo aquele "(i)" escondidinho ali? Então, é porque não é bem infinita essa luz que guia nossas artes. Ou melhor, ela, em si, não acaba, mas às vezes fica difícil ter acesso a ela, ou ao conteúdo dela. Só digo que pude aproveitar bem, foi uma das primeiras fontes de amor que pude provar - e olha, lembre-se bem de que existem inúmeras formas de amor. Não que eu me preocupe caso alguém interprete da forma errada, isso quem sabe e julga sou só eu. É que isso serve de aviso para os confusos espalhados por aí.
      E não vai pensando também que qualquer tipo de amor tem o mesmo efeito porque não tem. Se tivesse, não seria tão sem lógica como sou, não seria tão completa como sou. 

terça-feira, 3 de junho de 2014

Capítulo 8 - 03.06.2014

      Ainda tenho algumas dúvidas, mas ao que tudo indica estou me tornando uma especialista em tempo. Não aquele tempo que remetemos ao clima e fenômenos naturais, o tempo de relógio mesmo.
      Depois dos últimos eventos que passaram a me perseguir estranhamente todos os dias, isso tornou-se quase uma certeza. Eu, uma fissurada por horas, levando peça atrás de peça por elas. Eu, que antigamente carregava um relógio no pulso para olhar a hora de cinco em cinco minutos para absolutamente nada, vejo-me hoje como quem, automaticamente, conta os segundos esperando o presente passar.
      Ok, não preciso ser tão dramática assim, eu já fui mais ansiosa. Aprendi nos últimos meses a tratar o tempo como amigo, e fui mais bem recompensada. Nem sou mais tão pilhada assim, apesar de algumas vezes brincar que terei um ataque no coração de tanto esperar algo importante. Bem, talvez até tenha, mas... não era pra fazer drama de novo.
      Mas deixemos o tempo passar. Não é legal parar no tempo, isso é um baita prejuízo; a não ser que esse "parar no tempo" seja em um sentido totalmente diferente. Mas prefiro dizer que ele não para - quem dera, acho até que ele voa rápido, muito rápido. Sabe aquele momento em que num piscar de olhos (que só pra você foi um piscar de olhos) duas horas se passam? É, eu sei bem. E, ao mesmo tempo, o tempo que você quer que passe não vai de jeito nenhum. Quanto dura uma semana? E duas, é exatamente o dobro disso? Sei lá, maior conta sem lógica essa...
      Aí eu paro e penso: será mesmo que eu quero que passe? Ah, ainda que conhecedora do tempo, não conheço todas as manhas, sofro um pouquinho pra conseguir me dar bem. Volta e meia eu estou numa doida vontade de voltar o ponteiro para trás; logo em seguida, por um impulso, tento inutilmente empurrá-lo, como se ele fosse sair do lugar mais rápido do que o possível. Sai nada, o bendito é regrado que é uma coisa.
      Mas é por essas e outras que eu digo, não é tão difícil dominá-lo. Ele é sempre igual, quem muda é a gente. E sendo ele constante, trabalhar com ele é uma tarefa calculista que depende unicamente de nós mesmos.
       Poxa, não é ele que leva as coisas embora, somos nós. Nós! É sim, nós deixamos ele agir. Se não deixarmos, o que acontece? Boa pergunta, eu também não resisto às tentações dele (risos). Brincar com ele é uma das aventuras mais divertidas que existem. Só o tempo que levei para escrever isso aqui, só pra constar, feito uma máquina programada que não para pra pensar e só vai fazendo seus movimentos, já foi uma grande satisfação. Trabalhamos juntos: eu disse a ele "vá caminhando, tentarei preenchê-lo com uma caneta em mãos.". Preenchi, diria até que generosamente. Enquanto ele ia andando, contudo, ele me deixava percorrê-lo, vê-lo como era antes, como pode ser, como quero que seja. Oh, uma constante variável!
      Tem gente que não sabe brincar com ele, acaba é levando uma surra. O pior é quando começa a gostar de apanhar e torna isso rotina. Eu não, nem quero apanhar, nem bater, basta de violência no mundo, o meu mundinho interno é bem pacífico. Também tem quem tema o tempo... aquela história de saber diferenciar medo e respeito, eu não vou enfrentar, mas é porque não vejo necessidade.
      Incrível! Agora que estou terminando minha sessão de loucura, recebo a seguinte mensagem:
"Não se apressa a arte!"
      Vai me dizer que estou correndo muito? Aliás, é arte isso que faço? Não sabia!
      Ok, ok, eu entendi (e vou parar com esses "ok"). Coisas boas precisam nascer com jeitinho, não é isso que dizem, que a pressa é inimiga da perfeição?!
       Só por isso que vou me esforçar a ser paciente. Porque, jogando limpo, ai de mim se conseguir enganar alguém com esse papo de especialista em tempo, eu tô mesmo é louca pra ver ele chegar aonde eu já fui em pensamento um zilhão de vezes. Chega, vai!

Capítulo 7 - 02.06.2014

     E depois de tanto andar, cá estou eu! Meu Deus, quanto tempo... devo ter feito uma viagem. Confesso que várias vezes tentei parar um pouco, colocar as ideias em ordem, refletir, porém algum estranho medo de não chegar a tempo aonde estou me obrigou a andar sem pausas, não necessariamente correndo, mas de forma alguma dando chances aos imaginários pés da consciência de saborear o alívio de não precisar carregar o peso de alguém. E assim, o máximo que fiz nesse tempo foi escrever enquanto andava, com letras tortas e palavras incompletas, só para não estar totalmente perdida quando esse momento de inspiração fosse concedido a mim.
      Aqui dentro ouvi um panteão de vozes conversando. Algumas delas proferiram tão belas verdades que por vários dias me esforcei para guardá-las em algum cantinho seguro, mas lamento ter que admitir: elas foram roubadas. Dentre tudo o que matutei, só me lembro de uma constatação. Ora pois, melhor assim, pelo menos não perco a espontaneidade. Tenho comigo muitos "eus", sei que eles me ajudarão, através dessa informação, chegar bem mais longe.
     A mente é como um grande baú. Uma baú onde guardamos tudo aquilo que atribuímos valor e algum significado, mas que, por querermos manter sigilo, camuflamos com um sem-número de outras coisinhas sem sentido. O grande segredo é, ela não é um baú qualquer, pois esconde um fundo falso, porta para a vastidão de tamanho ilimitado que guarda todas as informações de nossa vida. Todas, sem exceção, desde a primeira imagem que focalizamos quando muitíssimo pequenos, até o instante que erroneamente chamamos de "tempo real". Grande tolice, até ele nos é passado.
      Bem, olhando agora me parece que já tenho o bastante para monologar aqui. Explanaremos o fato: se temos tudo guardado na mente, por que não as podemos, definitivamente, rememorar? Simples, porque ainda não encontramos a forma de desviar do monte de informações que jogamos por cima dos nossos "tesouros", porque o fundo falso de que falo não é tão óbvio assim e, finalmente, porque caminhar em meio a tanta "gente" nos deixa fadigados, confusos e levemente propícios a largar mão de boa parte da curiosidade para manter perto aquelas que já foram bem apresentadas e acolhidas.
      Por mais que pareça contrário ao que alguns dizem, aquela nossa vontade de dominar o mundo acaba mais rápido do que pensamos, ainda em nós mesmos, quando nos vemos abarrotados de conteúdo. Esse é o céu que tanto imagino. Meu Deus, o Universo é grande demais para imaginarmos que podemos contorná-lo, nossa mente, não obstante, é o céu que se sobrepõe ao "todo" que julgamos ser. Nos contentamos com o que vemos, achamos imenso. Ah, quem dera isso fosse imenso. O imenso é muito mais.
      De qualquer forma, estou com medo de ter falado tanto e não ter dito nada. Mas é que 40 dias (ou algo assim) é um bocado de tempo, e meu universo já aumentou consideravelmente de tamanho. Em algum lugar deve estar mantida a memória de quando pela primeira vez tropecei e caí, afinal, eu andei bastante e isso é inevitável. Deve ter passado o dia que minhas pernas bambearam e eu quase desisti... Vou me lembrando também da noite em que em prantos recordei o pedacinho que deixei pra trás, oh, esse dia! Escrevi um texto maior que esse mentalmente, enquanto me revirava de um lado pro outro na cama, escondendo a cara triste no travesseiro. A moral da história foi a mesma de sempre: é melhor você tampar de novo o fundo do baú e ir pro mundo real conquistar mais coisas (boas ou ruins) pra colocar lá dentro. O pulinho pro passado, a olhadela pra trás na estrada da vida, não podem demorar muito não, o importante é não estagnar e chegar no destino. Até porque todas as estradas se cruzarão lá na frente.
      Pra terminar aqui, só quero registrar uma importante fotografia do momento, antes de jogá-la no baú. Meu céu é cheio de nuvens, e eu me sinto tão bem nelas! O melhor de tudo, roubadora que sou, admito de mansinho, talvez ele dê passagem pra outro tão imenso salão; aquele que fazia TUM-TUM outrora e agora bate bem mais vivo e forte. Meu coração!