De volta, apresento-me novamente com um sonoro "Bom Dia!"
Como havia avisado no capítulo passado, voltaria a andar e não tinha previsão de paradas. O que não esperava é que ficaria tão empolgada com a jornada que rejeitaria o descanso por várias vezes.
Bom, hoje acho que ele me obrigou a querê-lo! Não me resta aceitar o que me foi destinado e aproveitar o melhor possível.
Havia começado minha peça teatral, como devem lembrar, monologada por diversas vozes, mas não soube prosseguir de imediato com a estória um pouco história. Felizmente, andando bem acompanhada como estou, muitas ideias me vieram para conduzi-la. É que estando ao lado de um ser tão sábio como esse, fica impossível não aprender. O único problema é a bobeira que vem junto... Mas como não sou eu quem falará daqui por diante, isso não será um obstáculo.
Então, veremos o que tem por hoje, meus queridos "eus". Mãos à obra!
Branca: - Diga-me, Serena,
você concorda que somos nós quem escolhemos e fazemos nossa família?
Gostaria infinitamente de pedir para chamá-la de irmã, contar meus
segredos, pedir ajuda...
Serena: - O que te aflige tanto? Branca, você sempre poderá confiar em mim, mas antes deixe-me lhe contar uma coisa:
O conceito de família é tão precário que me entristece. Alguns dizem "família é quem cria!", enquanto outros enrijecem os punhos e afirmam "você nasceu de mim, é em mim que deve confiar...". Há controvérsias! Uma família fora dos padrões é uma família, assim como aquela que está dentro deles também é. Um grupo de amigos pode ser uma família, ao mesmo tempo que não pode. Duas irmãs que mal se falam, mesmo morando debaixo do mesmo teto, não são uma família, ainda que no conceito original sejam exatamente isso. É porque existem "tipos" de família. Algumas você constrói, outras já são suas desde seu nascimento.
Mas deixe-me também dizer outra coisa, Branca, antes que você continue a desabafar. Você pode contar seus segredos para quem desejar, para o mundo inteiro; você também pode me chamar de irmã, de amiga, de confidente... Só não se esqueça que estou sendo um objeto para suas ações, assim como outro seria. A questão é saber qual objeto é melhor escolher para seu arsenal.
Mas julgo-me uma boa ouvinte. Se quiser contar, conte. Se quiser que eu lhe diga algo específico, direi, ainda que um pouco contrariada. Se quiser que dê minha opinião, darei de bom grado. E se preferir meu silêncio, meu voto de confiança para guardar segredo e ser apenas um objeto para seu alívio, me conformarei e aceitarei. A decisão é sua!
Branca: - Me desculpe perguntar-lhe com tamanho desespero. Talvez não saiba, mas sou racional 99% do tempo, devido minha criação, mas isso me faz deduzir que, por um brevíssimo momento, extravaso e coloco meus sentimentos à mostra. Estou calma agora, e contente! Dos muitos que conheci aqui fora, você me parece a mais sensata, como uma mistura equilibrada de todos os perfis.
Confio muito em ti e é por isso que vou com calma. Eu quero a sua ajuda, se for possível, para conhecer mais longe. Será que você poderia me levar a algum lugar que ainda não conheço? Sei que são muitos, não será difícil. Enquanto vamos andando, posso começar a lhe contar um pouco da minha história.
Jed (narrador)
Sorridentes e pensativas, as duas amigas começaram a andar. Branca era uma espécie inocente de ser, mas desejosa de aprender com a vida e com os outros. Comedida, ela não sabia para onde a levavam, mas tinha se instruído bem para saber que estava segura.
E a menina Branca, que valorizava tanto aquele seu segredo, temia contá-lo de imediato. Sempre dificultando tudo para si, ela queria ser vencedora, mas queria fazer isso sozinha. No entanto, adorava aquela companhia tão sábia e acolhedora. Veremos então, como seguiu essa cena de revelações e grandes avanços.
Veremos, sim, num próximo dia. É incrível como a história se repete, mas cada vez você a entende de um jeito. Aliás, a vida é engraçada, não?! Mas, enfim, me convidaram para partir, outra hora eu volto para continuar.
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