Apresentação

Para quem curte poemas, contos, lendas e histórias, aprecia uma boa música e é apaixonado por arte, aqui é um ótimo lugar para encontrar tudo isso de uma única vez. Seja bem-vindo!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Capítulo 6 - 21.04.2014

    Faz pouco tempo que voltei a caminhar e me dei conta de que esqueci parte de mim no local onde parei para realizar a minha primeira digressão. Agora não sei se devo voltar para pegar de volta ou se faz parte do jogo esse ganha e perde, essa "troca de pele" repentina.
    É possível que eu reconstrua o que deixei para trás sem muito esforço. Precisaria apenas concentrar meus pensamentos naquilo que se desprendeu, memorizar suas formas, seus significados e seu grau de importância. Assim, faria uma cópia quase perfeita em meu cérebro, e essa cópia tomaria o lugar do que passa a deixar de existir.
    Entretanto, imagino que eu deva fazer essa experiência com muita cautela. Estou me desafiando, disposta a mudar. Por via de regra, mudar não significa perder alguma coisa para ganhar outra em troca, significa conseguir usufruir de seus bens de uma forma diferente. Por isso, dispensando a oportunidade de uma segunda parada, irei caminhar mais lentamente, de modo que possa observar com mais afinco o que está ao redor e internamente, mas sem perder tanto tempo.
    Ouço vozes externas para me concentrar melhor, isso me faz relembrar a continuação da cena de onde retirei a frase para o capítulo anterior. Me lembro dela porque esse foi um dos temas que abordei. Ouvir sons que vêm de fora do seu corpo, por vezes, pode ser a melhor forma de deixar as suas vozes falarem sem regras e sem limites. É um jeito de retirar um pouco da sua responsabilidade de vigia e atuar somente como espectador. Você se integra ao exterior e passa a inverter os valores: o que vem de fora é seu, é normal; o que vem de dentro é a novidade que você assiste acontecer.
    Digo isso porque a minha intenção nesse momento é tentar entender porquê o ponto de vista é tão influente em nossas formas de conduzir sentimentos e pensamentos. Para quem enxerga de longe, com um maior número de ângulos a serem explorados, tudo parece ser bem transparente e simples. Quem presencia, pelo contrário, só conta com um único ângulo de visão, que nem sempre é favorável. Então, o que deveria ser claro pode estar enegrecido e o que deveria ser completo, com começo, meio, fim e todos os elementos necessários, pode estar com pedaços faltando - assim como estou agora.
    O que se faz, normalmente, quando algo está incompleto? Ao meu ver, existem duas soluções. Uma é unir os pedaços que existem, ignorando a necessidade do que não se tem. Outra é idealizar, ou seja, criar os "pontos" que ligam o que está disponível ao seu bel-prazer. Qualquer que seja a escolha, existirão problemas.
    Se eu unir o começo com  fim, ignorando o meio, quem está distante notará um vazio altamente prejudicial para a explicação desses dois momentos que se ligaram. A conclusão será algo com pouco valor, talvez até inútil. Mas seu eu idealizar, posso cometer outro grande erro: a supervalorização. Bom, isso explica porque certas coisas ou pessoas são tão importantes para você enquanto não fazem diferença para os outros. Ou existe uma deficiência de informação, porque você deixou de transmiti-la e ela se perdeu, ou você transformou algo comum em extraordinário, mas é só "coisa da sua cabeça".
    Pensando assim, sinto vontade de correr, recuar para pegar o que é meu por direito e necessidade. E mais do que isso, me arrependo por ter continuado a andar, ficando cada vez mais distante. Deveria ter ficado parada. Não, deveria ter voltado. Só que aí eu olho para trás, está tão longe. Reparo então que não perdi nada por ali, só me dei conta que faltava algo.
    Acho que tomei uma dessas decisões há mais de um ano, pelo menos com o que tento me referir indiretamente aqui. O mais estranho é que não sei dizer qual das duas foi a escolhida. Ambas fazem sentido, seus resultados são muito parecidos em relação a "obra" original, ainda sem partes caídas por aí.
    E depois de um breve momento de arrependimento por ter continuado a andar, eu começo a dar graças. Nesse caminho que trilho devem estar perdidos vários pedaços de mim, preciso seguir para encontrá-los.

Capítulo 5 - 21.04.2014

    Uma lembrança está me atingindo aqui dentro e me obriga a fazer a primeira pausa nessa caminhada. Admito que a ideia era seguir uma ordem para expor aquilo que me proponho a confrontar, colocando espaço e tempo em sincronia e narrando a minha história de forma cronológica, mas parece-me que uma linha do tempo está fora de cogitação aqui, na obra mais psicológica da minha vida.
    E cá estou, remoendo memórias de meu passado, ligando os fatos e pensando na melhor forma de colocá-las numa folha. Mesmo assim, por mais que eu tente dispor e encaixar as palavras de uma maneira coerente, a única coisa clara para mim é uma frase que não para de me perseguir. Não sei dizer bem se ela é uma indagação, uma bronca ou um conselho, só sei que foi importante para me fazer refletir.
    (...) você é boba! Por que você fica criando personagens para transmitir seus pensamentos e tem medo de ser você mesma, fica se escondendo atrás desses personagens?
    Nesse momentos estou como fiquei quando ouvi isso: sem palavras!
    É exatamente por não encontrar resposta para isso que começarei da maneira mais errônea possível, mas a única que me vale agora. Precisarei chamar meus personagens para que eles deem continuidade ao pensamento, pedindo a Deus que eles saibam conduzir bem as minhas palavras daqui para frente. Apresento, então, o anjo e o demônio que habitam minha mente, mas que posso representá-los como duas figuras pequenas sobre meus ombros a sussurrar suas contradições enquanto eu me faço estática sobre o tapete que ousei atravessar. E junto deles, agora me encontro presa (mentalmente) em um túnel do tempo, para que possa analisar melhor a cena de onde surgiu a frase que há tempos é centro e referência para meus devaneios.
    Assim narra o anjo:
    - Muda, aparentemente sem expressão. Os olhos vidrados são a única passagem para o mundo a ser descoberto, e logo de cara passam a sensação de medo. Ela fora pega de surpresa, desprotegida. Qualquer palavra que lhe fosse dita a faria desabar. Mas optaram pelo silêncio, e por um sorriso, que os olhos vislumbraram com alívio. Não fazia nada para defendê-la, assim como ela, eu estava calado. Sendo um personagem, ao dizer um "a" que fosse estaria indo contra o propósito de ajudá-la a ser independente de nossas atuações. Então, o demônio teve a oportunidade de exercer o seu papel...
    - Sim! Eu dizia aquilo que ela precisava para não desabar e parecer forte o suficiente para ignorar o que lhe haviam dito. Orgulho, superioridade, a capacidade de ser e poder sem deixar-se refém dos sentimentos mesquinhos. Era isso que eu colocava em sua mente...
   
    Eu dizia internamente NÃO! (era como a pedra). Mas sem alguém para nortear o caminho dessa palavra ela acabou se tornando uma negação à pergunta, ela negou a minha necessidade de falar e me expressar.
    No fim, quando o anjo continuava calado e o demônio quase devorava o trajeto que suas palavras azedas percorriam, eu deixei escapar o único som que consegui impulsionar além das cordas vocais, enquanto os demais, que deveriam acompanhá-lo, regrediram à origem. Eu disse: NÃO SEI!
    Foi então que meus olhos vislumbraram um sorriso e automaticamente troquei de assunto, um mais fácil.
    Agora estou aqui, em minha caminhada. O túnel do tempo foi guardado em algum lugar dentro de mim e só há o agora para ver. Continuo a dizer "não sei", essa é a minha resposta ainda. Não sei como ser eu mesma, não sei como me impor à frente das minhas criações, não sei como não confundir o mundo real com o mundo imaginário, não sei, enfim, como responder outra coisa para quem me fez essa pergunta. Mas sei algumas coisas que colocarei aqui, não da melhor forma para se libertar, pois não soltarei minha voz, porém o bastante para conseguir dar mais uns passos e sair da posição que me encontro.
    Apesar do orgulho que o demônio me deu, o anjo me ensinou a dizer obrigada. Ele me ensinou isso quando ficou calado e tentou me deixar agir por conta própria, mesmo tendo a certeza de que não seria naquele momento. Eu ainda não estava preparada, e nem estou. Então, quero usar o que aprendi com ele para me mover. Mesmo que seja tarde, minha vontade é dizer obrigada, a você, dona dessa frase que não sai de mim. Obrigada por mais esse conselho, obrigada por tudo! 

domingo, 20 de abril de 2014

Desconstruindo

Era uma vez um rochedo, chamado Godofredo,
E uma preguiça, chamada Melissa.

Godofredo gostava de sentir a brisa,
Enquanto Melissa adorava sua velha camisa.
Um dia, a brisa levou sua camisa para longe,
E fez com que Melissa encontrasse um Monge.

Este Monge era budista e muito altruísta,
Tinha a pele morena e a consciência serena.

Ele tinha em seu templo um jardim,
Que possuía flores com cor de carmim.
Dentre elas, havia uma bela e rara bromélia,
Que em homenagem a sua Mãe, ele chamou de Amélia.

Justo Amélia murchou, assim que Melissa a puxou.
O Monge, ao perceber, começou logo a dizer:

Essa flor guarda um poder misterioso,
Que aguça o desejo de todo e qualquer curioso.
Mas vejo que você não veio aqui para isso,
Então, posso lhe ajudar em seu compromisso?

Melissa ficou com medo desse inusitado enredo,
Não soube o que falar, então pôs-se a chorar.

O Monge percebeu que ela estava assustada
E rapidamente a levou para sua morada.
Devolveu Amélia delicadamente a um vaso
E tratou de averiguar bem o caso.

Apesar da gentileza, perguntou sem muita clareza:
O que faz um ser aluado visitar meu templo sagrado?

E do alto do rochedo um pássaro sombrio
Piou um sonido agudo e frio.
Melissa, ainda muda, não soube falar,
Mas seu olhar melindroso fez o Monge decifrar:

Naquela manhã um tecido, por ele desconhecido,
Foi encontrado ao relento, trazido pelo vento.

Mas como ele iria dizer para o pobre animal
Que aquele pássaro, depois de um rasante fatal,
Levou a camisa para o ponto mais alto
Do rochedo feito de areia e basalto?

E então ele silenciou, fechou os olhos e orou
Para que nada de ruim acontecesse no fim.

Melissa acordou, fora tudo um sonho,
Mas ainda sentia um arrepio medonho.
Godofredo, seu lar, estava a desabar
E um pássaro louco murmurava ao voar:

Um homem e uma flor, se amam com ardor,
Quando a fera e seu lar, se extinguem no mar!

Um homem e uma flor, a fera e seu lar,
A chama se acende, mas volta a apagar.
Um início engraçado, um final derradeiro,
As asas batendo além do desfiladeiro.

As ondas do mar, a chama do amor,
Godofredo e Melissa gritando de horror.
O pássaro baila, olhando-os cair,
Pega a camisa velha e começa a vestir.

Samanta Geraldini

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Capítulo 4 - 17.04.2014

    Quem me dera se eu pudesse deixar de pensar por alguns minutos. Isso resolveria muita coisa: aliviaria a dor de cabeça, daria folga aos neurônios que trabalham dia e noite sem uma folga sequer, acalentaria a alma e o corpo, que estão sempre em colisão.
    Queria também poder parar de procurar tantas vozes dentro de mim, pois existe um mundo lá fora que deve ter algo útil para mostrar. Não sei se sou ouvinte ou oradora, mas sei que cansei dessa companhia diária de vozes, todas elas com o mesmo som, apenas encenando personagens com características diferentes. Para que todo esse egocentrismo? Eu, eu, eu, eu... chega! Existem pessoas importantes no mundo, e eu garanto, não estão dentro de mim.
    E que papo é esse de que não me dou valor, de que estou longe de ser narcisista? Uma pessoa que olha para seu próprio umbigo o dia todo tentando encontrar uma passagem para o lado de dentro não pode ser alguém modesto. Estou enjoada desse meu jeito de ser, sim, estou revoltada!
    Em meus primeiros três monólogos me senti um fracasso. Até hoje não sei definir quem sou; ouvi e vi a razão barrando meus sentimentos enquanto eu, com toda a minha covardia, não conseguia me impor; nadei, nadei, nadei e dei de cara com uma rocha, e a voz que cantava feliz levou um susto com tamanho estrondo e foi se esconder mais uma vez. A única conclusão que tive, depois de tanto, foi a mais óbvia de todas: eu vivo em um mundo de ilusões, sou fraca, desordenada e, o pior de tudo, vivo forjando uma couraça soberba que me esconde e apresenta alguém totalmente diferente.
    Faz um bom tempo que me cansei, tanto que venho percebendo uma efêmera mudança de comportamento. De uns tempos para cá, essa couraça começou a apresentar uma mecânica diferente, um pouco menos segura e muito mais reveladora. Contudo, ainda assim estou longe de deixar escapar meus estimados anjos e demônios. 
    Sei de mais uma coisa: minhas lamentações e essa repentina revolta não cessarão tão facilmente. Quando tento não pensar, automaticamente, estou me propondo a fazer o oposto. e essas vozes que me perseguem como fantasmas nunca irão me deixar em paz, ora bolas, elas são meus pensamentos.
    Enfim, quando não se pode derrotar um inimigo, a solução é juntar-se a ele, esse é o lema. Então, por que não aceitá-lo?! Chegou a hora de mudar de tática, levar o que estava sério com ainda mais rigor, dar a cara pra bater e atravessar o tapete vermelho - branco, azul, verde, amarelo... - que se estende a minha frente, até porque, sei que existem arautos gritando "Abram alas" do lado oposto da minha sombra.
    Vozes, corpo, mente, espírito e qualquer espectador que esteja ouvindo esse discurso descabeçado, sinto em informar que tudo o que disse até aqui não passou do prólogo, e a história em si, com seu sem-número de capítulos, começa a se desenrolar agora. Abram alas, como disseram, pois trago uma legião colossal de anjos e demônios que batalham entre si sobre meus ombros; pois calço meus pés no chão e caminho firme, sem medo de tropeçar em uma pedra, de me afundar numa poça d'água. 
    E não se deixe enlouquecer no meio da peça. São muitos personagens, eu admito, mas somos todos iguais no fim das contas. Posso, com toda sinceridade, estar me revelando esquizofrênica rápido demais, mas os loucos são sábios!
    Hoje, a água encontrou a rachadura que precisava para escapar.
    Hoje, a caixa vermelha se abriu, e muitos presentes correm para seus felizardos.
    Hoje, Serena está muda, e minha voz também. Mas, ainda assim, sei que me esperam, e eu vou além do que qualquer um pode imaginar.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Espelho da Realidade

Mais um dia se passou.
Depois de acordar cedo,
Ir para a escola,
Ver centenas de pessoas,
Gastar seus neurônios ao máximo numa prova difícil,
Você enfim chega em casa!

O cansaço é enorme:
Sua cabeça dói,
O estômago está roncando,
Os pés não aguentam mais o peso que está sobre eles.
Então você larga o material sobre a mesa,
Descalça os sapatos
E senta tranquilo no sofá da sala.

Liga a TV,
Está começando um jornal.
A primeira manchete se inicia dizendo:
“Homem é acusado de estuprar a filha de oito anos...”.
O fato não te surpreende mais,
Não foi a primeira nem a última vez que você ouviu isso.

Sua atenção é voltada para o irmão mais novo que se aproxima,
Ele está no telefone e
Conversa com um amigo sobre o novo colega de classe:
“Como ele é engraçado e esquisito... usa roupas feias, os óculos são enormes, 
Não abre a boca nem para se defender...”.
Ele está rindo, mas não imagina o sofrimento daquele garoto.

Você se levanta e vai para o quarto.
A porta de entrada se abre,
É sua mãe que acaba de chegar do árduo trabalho.
Ela reclama de dores
E você sabe que não são consequências da profissão.
Ela entra no quarto dela e começa a chorar
Enquanto você ouve tudo silenciosamente.

Nesse momento, provavelmente,
Seu pai está num bar,
Bebendo até não aguentar mais.
Não vai demorar muito para que ele chegue em casa,
Os dois vão discutir,
Ela vai apanhar,
Chorar calada,
Omitir um crime.
E você?
Vai guardar tudo isso na memória
E levar para o resto de sua vida.

Mas dessa vez ele não chega.
Em seu lugar aparece um homem desesperado:
“Ele morreu, atiraram nele... sinto muito minha senhora!”.
Acabou!
Seu pai está morto,
Sua mãe, enfim, livre,
E sua vida sem rumo.

Violência gerou mais violência.
O resultado?
Tragédias inesgotáveis.
O que fazer?
Não sei,
Mas posso afirmar:
Sempre foi assim! 

Samanta Geraldini

sábado, 12 de abril de 2014

Dilema

Uma explosão de vozes em minha cabeça,
O pensamento surge antes que eu diga: apareça!
Ideias entusiastas e magnânimas vêm,
Junto às lembranças nem tão boas de alguém.

Um zilhão de coisas para fazer vibrar
Sem saber ao menos por onde começar.
O tempo escapando por um fio
Como o curso da água em um rio.

E os olhos se fecham,
Os pensamentos tropeçam.
Eu sei, não é assim que se faz!

Mas o corpo cai amolecido,
Desfalecendo em um lugar perdido,
Pedindo descanso e um pouco de paz.

Samanta Geraldini

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O Anjo

Diga-me, senhor meu Deus
Por que criastes um anjo tão lindo
Mais belo que todos os filhos teus
E de asas cortadas lhe pôs no ar, caindo

Enquanto gritava ele perdeu sua voz
E suas últimas lágrimas chorou com tristeza
O vento levou-lhe soturno e veloz
E deixou para trás toda sua beleza.

Então das estrelas ele roubou o brilho
E com o céu coloriu seu olhar;
Das flores, criou o perfume
E como uma onda embalou-se no mar.

Navegou em meus sonhos mais puros e vãos
Perfilou corações sobre o veleiro a zarpar
Pegou emprestado da sereia o som
Que não poupa um homem do medo de amar.

Em algum lugar distante
Aprendeu a viver como eu
Uniu todo o pecado dos homens
A tudo de puro que o Senhor lhe deu.

Tornou-se um anjo que clama
Mas não consegue voar
E escondeu-se naquela dama
Por quem eu fui me apaixonar.


Álvaro Ribeiro

Sinta o poder do Deus do Trovão!

Já ouviu falar de Odin, Thor, Freya, Loki, Asgard e Ragnarok? Admito que sou fascinada por toda a cultura dos povos escandinavos, onde homens nasciam dispostos a guerrear por um pedaço de terra longe do inverno congelante. As histórias contam fatos terríveis de supostos bárbaros que, utilizando seus grandes machados de batalha, saqueavam tudo o que encontravam ao longo do mar revolto, que acreditavam em um deus do trovão que os guiava durante seus feitos e que, morrer lutando, significava um lugar reservado em Valhalla, um grande salão onde somente os verdadeiros deuses e heróis poderiam frequentar.    

Não sei certamente qual o tamanho da força de um nórdico, nem quanto poder tinham os Vikings, mas essa banda pode dar uma ideia. Então, bárbaros, do norte ou do sul, preparem seus pescoços, pois não há como ficar com a cabeça parada ao som de Amon Amarth.


Capítulo 3 - 10.04.2014

    Sobretudo sorri, quando vieram me perguntar que diabos eu sou para ter tantas vozes. Sorri, sim, porque foi uma nova voz quem me perguntou. Ela parecia mais serena que as outras três que conversavam dias atrás; não sentia medo, nem era arrojada; compreendia, porém questionava; não sabia ao certo de onde e porquê vinha, mas foi humilde o bastante para ser sincera, perguntar, procurar uma resposta e chegar a uma conclusão.
    Nos tornamos amigas em um curto período de tempo. Nem somos tão parecidas assim, no entanto, existem semelhanças incríveis que nos fazem caminhar juntas, lado a lado, em um só corpo.
    Logo quando a conheci, com aquele jeitinho manso, delicado, todo questionador, senti que poderia confiar nela e amadurecer com seus conselhos ocultos. Fui percebendo aos poucos que essa voz nunca gritava, aliás, quase nunca se pronunciava, mas, mesmo quando muda, ela dizia mais do que as outras.
    E aqui está ela a dizer, em seu silêncio discreto e profundo, que tudo o que preciso é saber ouvir a única voz que nunca pediu para ser ouvida e que ainda não conheço, porque me preocupei muito em ouvir as demais. Suponho que essa voz a quem ela se refere seja a minha única voz "sonora". Aquela que todos fora de mim ouvem, enquanto eu tento controlar a multidão tagarela aqui de dentro.
    Mas pensando comigo mesma, ou melhor, conversando com uma das tantas vozes que tenho, e talvez a mais disposta a responder prontamente, sem rodeios, há e não há sentido nessa solução que me foi dada. Seria correto ignorar todos os que me falam e partir em busca de um novo som? Deve haver um motivo mais coerente para tantas personalidades dentro de uma só pessoa, que vai mais além do que servir de obstáculo no caminho para a personalidade ideal.
    Aí eu me pergunto o mesmo que Serena (assim denominei minha apreciável companheira de quietude). Que diabos eu sou para ter tantas vozes?
    Pela primeira vez não encontrei uma definição metafórica para sustentar minhas hipóteses. Só me veio uma palavra à cabeça: humana. Todo ser humano tem várias faces, umas mais tristes, outras mandonas, algumas perversas e malignas. Certas faces são duvidosas, indecisas, desconfiadas, enquanto outras fazem de tudo para plantar nas outras a mesma convicção que têm. Creio também que existem momentos de completa solidão, quando todas as vozes silenciam, cansadas, ou somente por acharem melhor assim. Mas ainda existe uma voz que pode falar nesse momento, ela só está esperando que a chamem.
    Estou tentando fazer isso agora. Eu a ouço, peço para continuar. Apesar de tímida, ela faz um esforço e acata o meu pedido. Começa a falar mais alto, de uma forma que soe bonito. Pensa em recitar algo, um poema, quem sabe. Vai mais longe e arrisca cantar. Percebe então que quando está dizendo, todas as outras se calam, e assim que ela emudece, as outras voltam, um pouco adormecidas.
    ...
    ...
    ...
    ...
    ...
    Nada do que diz se transforma em palavras capazes de serem escritas. Antes disso, o vento as leva, criando um sonido afável, com um timbre familiar e acolhedor. E essa voz vai dizendo, cantando, procurando a melhor forma de se manifestar, e em tempos cala, permitindo que as outras deixem-me registrar algo numa folha de papel.
    Só temo que algum ruído externo venha atrapalhar essa experiência tão boa. Temo que, ao tentar dividir espaço com outra voz, a minha torne a se acanhar e fique muda mais uma vez. Todas as vezes são assim, na verdade, eu sempre a conheci, porém, ora ou outra, eu esqueço como ela é. Esqueço como chamá-la. Esqueço como fazer para convencê-la que o real espectador não deve ser eu, mas os outros que, de mim, só têm ela para ouvir. 

terça-feira, 8 de abril de 2014

Versos Forçados

Penso,
Uso e abuso
E deixo de lado.
Repenso,
Coloco num canto,
Encontro um espaço,
Acho uma utilidade,
Mas devolvo pro lixo.
De repente, preciso de novo,
Limpo, reconstruo,
Faço ficar bonito.
Cuido com carinho,
Só que não consigo manter
E estrago mais uma vez.
Mando pro conserto,
Esvazio, limpo,
Deixo novinho, sem um arranhão.
Penso...

Coitado do cérebro
Fica sempre na briga
Não sabe se vai ou se fica,
Se coloca entre os brinquedos
E deixa o coração mandar.
Pois num instante eu o quebro
E a dualidade me instiga
A escrever uma última rima
Mesmo sabendo que meus dedos
Não conseguem falar!
Samanta Geraldini

Omnia - Um passo para a cultura pagã

Essa banda que apresento hoje é uma das mais representativas da cultura pagã. Para não me estender tanto, não vou fazer uma discografia completa, tampouco lotar a postagem de músicas, imagens e texto. Farei, então, uma breve introdução do que é Omnia (do latim: tudo), apresentando algumas das características que mais me cativam e deixando duas músicas com gostinho de quero mais.

Omnia é uma banda holandesa que conta com os típicos instrumentos para compor uma música folk. Mesclando culturas de várias regiões, trata a espiritualidade e a natureza de uma forma gostosa, calma e, ao mesmo tempo, com uma pegada mais densa. Mas eles não se restringem a um gênero só, falam de poesia, agregam-se ao rap, abusam da possibilidade de um dueto vocal e encantam com o bom gosto para figurino e cenário, tão bem compatíveis ao nível musical.

Uma das músicas que mais gosto deles, pela atmosfera que traz, é a chamada Toys in The Attic. Nunca ouvi uma música sombria e inocente como essa. Afinal, como essas risadas malignas conseguem ser tão gostosas?  

  
E pra não repetir os clichês e sempre colocar a música que talvez seja a mais conhecida, vou colocar um vídeo feito pelo casal fundador da banda, onde a beleza e a amizade de humanos e pássaros remete a uma grande tranquilidade. O nome da música é Earth Warrior.


Mas vale lembrar que a capacidade musical da banda não para por aí, existe muito mais trabalho bom a ser conhecido. Então, se você gostou dessa dica, e realmente ficou com o "gostinho de quero mais", não perca tempo e pesquise um pouco mais sobre essa cultura que ganhou meu coração!

This is me

I'm a wandering soul
That roams at night
Like a firefly without a light.

I’m a sinful soul
Ashamed of not being able
To carry a cross as our Savior.

I'm a whore soul
Perverted, corrupted,
Meat lover.

I'm an honest soul
besides all
and I want to redeem myself!

Samanta Geraldini

Tentativas de ser poetisa

Sempre fui daquelas que escrevia um poema para depois jogar fora, agora decidi publicá-los. Não são muitos, não são tão bons, mas são sinceros como tudo que me proponho a fazer e dizer. Eis aqui minha coletânea de poemas.

Aces High

O melhor de tudo é quando até mesmo nas aulas de história você consegue colocar um heavy metal. Estudar a 2ª Guerra Mundial com a trilha sonora composta por Iron Maiden faz com que eu seja ainda mais apaixonada pelos fatos passados. A banda não é a única que proporciona uma viagem no tempo e na história, e também não é apenas uma vez que tem esse propósito, mas é uma das que mais gosto.


"Nós devemos ir até o fim.
Nós devemos lutar na França
Nós devemos lutar sobre os mares e oceanos.
Nós devemos lutar com confiança e força crescentes no ar.
Nós devemos defender nossa ilha não importa qual seja o custo.
Nós devemos lutar nas praias, nós devemos lutar no chão,
Nós devemos lutar nos campos e nas ruas,
Nós devemos lutar nas colinas.
Nós nunca devemos nos render."

Discurso de Winston Churchill

As Sinfonias que Inspiram

Muitas vezes o melhor som que se pode ouvir é o silêncio: ele acalma, faz refletir e possibilita que a mente encontre refúgio do mundo tão atribulado que nos cerca. Mas nem sempre a quietude é capaz de nos fazer sentir o que realmente precisamos.

As músicas despertam emoções, lembranças e sentimentos; as músicas inspiram os artistas e os apaixonados; as músicas dão sentido ao que parecia não ter. As músicas, ou como gosto de chamar, sinfonias, que aqui coloco, não são apenas um som de instrumentos acompanhado por uma letra, são o alento que todos precisam para ser quem são.

Capítulo 2 - 07.04.2014

Toc-toc...
- Quem é?
- Não, essa pergunta não tem resposta. Você deve fazer outra, ok?!
- Ah, é verdade. Onde bate?
- Estou batendo numa caixinha vermelha. Você não deveria saber?
- Tanto quanto isso deveria ser um monólogo.
- Mas isso é um monólogo, nós somos o mesmo...
- Claro que não! Mal sei quem você é. Está dentro de mim, não quer dizer que seja eu, contudo.
- Vou fingir que acredito (risos). Mas, afinal, como não sabe onde estou batendo?
- Geralmente, quando nos solidificamos, perdemos a sensibilidade para distinguir onde nos tocam.
- Isso não é nada bom! Bem, como disse, estou batendo numa caixinha vermelha. Vai abrir e me deixar entrar ou ficar espiando pelo olho mágico?
- Na verdade, só não sei o caminho até a porta.
- Estou começando a me preocupar. Já parou para pensar no que você realmente sabe?
- Sim e não.
- O quê?
- Sim, já parei para pensar; e não, não sei nada realmente.
- Não sei como podemos ser a mesma pessoa. Somos opostos, completamente opostos! Você não pode me ver, mas eu sou incontestável, certo, decidido, presente... digamos que sou como o vento. E você, o que é? Posso te tocar, mas você não consegue distinguir onde; estou te vendo, mas não consigo dizer como é - a não ser por metáforas: caixinha vermelha, uma pedra e blá, blá, blá... - pfft! Suas palavras perdem o sentido, por mais bem articuladas que sejam. Diz-me ser algo sólido, mas, definitivamente, creio que está desabando.
- Não somos a mesma pessoa, já disse!
- Mas habitamos o mesmo lugar, dá na mesma.
- Vocês dois, podem parar de discutir, por favor?
- Ora, vejam só, chegou o senhor da razão.
- Não sou o senhor da razão. Eu sou a razão! (silêncio)
Toc-toc...
- Está me ouvindo? Hã? Assuma, você sabe onde estou batendo. (silêncio novamente). Vai ficar quieta, é isso mesmo? Está vendo o que fez, senhora razão?
- Pelo menos alguém atendeu meu pedido.
- Sabe que também somos a mesma pessoa, né?
- Não, não somos...
Ungh! Snif!
- Hey, ouça!
- Não ouço nada. Pelo menos vejo uma porta abrindo. Até mais...
-Shhh! Não está entendendo.
Snif! (longo silêncio) - Eu só queria ficar quieta. São muitas vozes, não consigo entendê-las.
- Pobre criança... Hey, hey, não atravesse essa porta!
- Por quê? O que estou fazendo de errado agora?
- Não percebeu ainda?
- Não, eu acho. Poderia me explicar?
- Está batendo em si mesmo...
Toc-tum...
- Essa é a saída, não a entrada...
Tum...
- Tem certeza que quer sair?
Snif!
- Você está louca! (anda até a porta)
- Ahhhh! (a porta fecha, ninguém sai) Deixem-me em paz!
- Ficará em paz, criança. Me chame, porém, quando precisar de mim. (a razão silencia, e vai embora)
Tum-tum... tum-tum... tum-tum...
 

Capítulo 1 - 19.03.2014

    Partes de mim dizem que é amor, outra que é apenas amizade, enquanto uma, um pouco mais insana, insiste em classificar como obsessão. Não sei, de fato, qual delas está a dizer verdades, nem se alguma é uma falácia, afinal, possa ser tudo isso ao mesmo tempo.
    É estranho explicar, um tanto quanto absurdo, para ser mais sincera. Admirar, pensar, querer retribuir a importância de uma pessoa e não saber ao menos por onde começar, é uma sensação tão forte, que me perturba. O pior disso tudo é que, sem saber ao certo como dosar e medir meus sentimentos, temo pedir explicações para outrem da forma equivocada.
    Criar uma hipótese e, antes de refletir arduamente sobre ela, negá-la, traz-me a impressão de que a conclusão não será tão produtiva quanto gostaria que fosse. Mas... como definir o "amor"? Ouço tanto essa palavra que chego a acreditar que, pior do que ser banalizada, ela não passa de uma utopia. Se bem que, no meu caso, apesar de platônico, nada concreto e totalmente confuso, ele (o amor) é real - em um real imaginário (?).
    A cada dia que passa eu percebo o quanto perdi minha certeza ao escrever. Antes eram apenas reflexões, todas elas conclusivas; agora, Deus pode concordar, são pensamento que, a cada marca de tinta deixada na folha por rabiscos que alguém nomeou por letras, palavras, acentos e seja mais o que for, caminham mais para dentro de um vasto terreno desconhecido, cheio de labirintos, mas que, provavelmente, não exibe uma saída. Eis a minha mente - ou meu coração, se preferir!
    Hoje, em uma das cartas que escrevo para um certo alguém que considero muito, utilizei uma metáfora onde coloquei-me como uma pedra cheia de água em seu âmago. Uma pedra rígida, áspera, fria, no entanto permeável. Lá dentro, a água se agita, ondula, acalma; aquece e resfria; ecoa baixinho, ou faz ruídos tenebrosos, de acordo com meu humor, minha imaginação e meus instintos. Bastaria um furo, uma tênue rachadura, para que essa água encolhida e isolada escapulisse. Mas ela é inexperiente, não saberia como agir. Ela poderia encontrar o caminho para um dos Oceanos, como poderia se perder, e secar.
    Tenho medo! É por isso que constantemente observo a camada concreta que a fecha, tomando cuidado para não deixar que uma mísera gota caia.
    E a curiosidade? Bem, ela é tão menor quanto a coragem, e talvez exista mais por parte da água do que da pedra. Acredito que a água sonhe com a liberdade, a capacidade de se expressar, lavar os pés dos que pisam na pedra, disfarçar as lágrimas dos que foram atacados por essa mesma pedra, surpreender os que sentiam, também pela pedra, alguma ínfima e rara simpatia. Mas a água é medrosa, e quanto ouve o NÃO! da pedra, prefere continuar ali, onde conhece. A pedra é a negação pura, é aquilo que a água tenta quebrar, e é aquilo que a água constrói, quase mutuamente, para se proteger.
    Sim, perdi a noção do que é ser humano. Me represento assim, porque o abstrato combina mais comigo. Combina mais com a água. A pedra é concreta, mas não gosta muito de escrever.
    Esqueci até o que pretendia registrar aqui, quem sabe... nada! Ah, sim, nada significa tudo. Queria registrar, em poucas palavras, tudo o que sou. Uma pena, vejo que falhei em meu propósito, talvez precise de uma segunda chance.
    Vejamos, me restam algumas linhas para escrever, acho que posso tentar...
    ... era uma pedra, que um dia se encheu de água. A água "cresceu", aprendeu a "falar", e toda vez que lembra disso, de quem fez isso, ensinou isso...
 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O Monólogo de ...

Dedico aqui um cantinho para meus momentos de maior espontaneidade. Um cantinho onde eu possa experimentar escrever uma história que não tem começo nem fim, ou se preferirem, nem pé nem cabeça. Mas, acima de tudo, um cantinho em que eu possa me libertar e transpor em palavras coisas malucas que, às vezes, tornar-se-ão compatíveis com a vida de um ou outro, e até com você, leitor.     
A cada capítulo, nossa querida "..." contará um pouco mais de sua existência, indagando sobre tudo que a cerca e a constrói. São monólogos curtos, de aproximadamente uma folha, mas que revelam informações carregadas de dualidade, jogadas estrategicamente aos seus olhos para esclarecer ou deixar mais dúvidas no ar. Portanto, atente-se a elas e tome cuidado para não deixar seu cérebro bailando em uma sinfonia regida pela loucura.