Apresentação

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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Capítulo 6 - 21.04.2014

    Faz pouco tempo que voltei a caminhar e me dei conta de que esqueci parte de mim no local onde parei para realizar a minha primeira digressão. Agora não sei se devo voltar para pegar de volta ou se faz parte do jogo esse ganha e perde, essa "troca de pele" repentina.
    É possível que eu reconstrua o que deixei para trás sem muito esforço. Precisaria apenas concentrar meus pensamentos naquilo que se desprendeu, memorizar suas formas, seus significados e seu grau de importância. Assim, faria uma cópia quase perfeita em meu cérebro, e essa cópia tomaria o lugar do que passa a deixar de existir.
    Entretanto, imagino que eu deva fazer essa experiência com muita cautela. Estou me desafiando, disposta a mudar. Por via de regra, mudar não significa perder alguma coisa para ganhar outra em troca, significa conseguir usufruir de seus bens de uma forma diferente. Por isso, dispensando a oportunidade de uma segunda parada, irei caminhar mais lentamente, de modo que possa observar com mais afinco o que está ao redor e internamente, mas sem perder tanto tempo.
    Ouço vozes externas para me concentrar melhor, isso me faz relembrar a continuação da cena de onde retirei a frase para o capítulo anterior. Me lembro dela porque esse foi um dos temas que abordei. Ouvir sons que vêm de fora do seu corpo, por vezes, pode ser a melhor forma de deixar as suas vozes falarem sem regras e sem limites. É um jeito de retirar um pouco da sua responsabilidade de vigia e atuar somente como espectador. Você se integra ao exterior e passa a inverter os valores: o que vem de fora é seu, é normal; o que vem de dentro é a novidade que você assiste acontecer.
    Digo isso porque a minha intenção nesse momento é tentar entender porquê o ponto de vista é tão influente em nossas formas de conduzir sentimentos e pensamentos. Para quem enxerga de longe, com um maior número de ângulos a serem explorados, tudo parece ser bem transparente e simples. Quem presencia, pelo contrário, só conta com um único ângulo de visão, que nem sempre é favorável. Então, o que deveria ser claro pode estar enegrecido e o que deveria ser completo, com começo, meio, fim e todos os elementos necessários, pode estar com pedaços faltando - assim como estou agora.
    O que se faz, normalmente, quando algo está incompleto? Ao meu ver, existem duas soluções. Uma é unir os pedaços que existem, ignorando a necessidade do que não se tem. Outra é idealizar, ou seja, criar os "pontos" que ligam o que está disponível ao seu bel-prazer. Qualquer que seja a escolha, existirão problemas.
    Se eu unir o começo com  fim, ignorando o meio, quem está distante notará um vazio altamente prejudicial para a explicação desses dois momentos que se ligaram. A conclusão será algo com pouco valor, talvez até inútil. Mas seu eu idealizar, posso cometer outro grande erro: a supervalorização. Bom, isso explica porque certas coisas ou pessoas são tão importantes para você enquanto não fazem diferença para os outros. Ou existe uma deficiência de informação, porque você deixou de transmiti-la e ela se perdeu, ou você transformou algo comum em extraordinário, mas é só "coisa da sua cabeça".
    Pensando assim, sinto vontade de correr, recuar para pegar o que é meu por direito e necessidade. E mais do que isso, me arrependo por ter continuado a andar, ficando cada vez mais distante. Deveria ter ficado parada. Não, deveria ter voltado. Só que aí eu olho para trás, está tão longe. Reparo então que não perdi nada por ali, só me dei conta que faltava algo.
    Acho que tomei uma dessas decisões há mais de um ano, pelo menos com o que tento me referir indiretamente aqui. O mais estranho é que não sei dizer qual das duas foi a escolhida. Ambas fazem sentido, seus resultados são muito parecidos em relação a "obra" original, ainda sem partes caídas por aí.
    E depois de um breve momento de arrependimento por ter continuado a andar, eu começo a dar graças. Nesse caminho que trilho devem estar perdidos vários pedaços de mim, preciso seguir para encontrá-los.

2 comentários:

  1. Palavras bonitas, intensas e com vida própria. Parabéns, Samanta. Vc é uma poetisa rara nos dias de hoje!!!!

    =)

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    1. Obrigada pelo elogio!! Espero que possa melhorar cada vez mais, fazendo com que as palavras tenham "vida própria", a sutileza e a intensidade que podem demonstrar.

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