Apresentação

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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Capítulo 3 - 10.04.2014

    Sobretudo sorri, quando vieram me perguntar que diabos eu sou para ter tantas vozes. Sorri, sim, porque foi uma nova voz quem me perguntou. Ela parecia mais serena que as outras três que conversavam dias atrás; não sentia medo, nem era arrojada; compreendia, porém questionava; não sabia ao certo de onde e porquê vinha, mas foi humilde o bastante para ser sincera, perguntar, procurar uma resposta e chegar a uma conclusão.
    Nos tornamos amigas em um curto período de tempo. Nem somos tão parecidas assim, no entanto, existem semelhanças incríveis que nos fazem caminhar juntas, lado a lado, em um só corpo.
    Logo quando a conheci, com aquele jeitinho manso, delicado, todo questionador, senti que poderia confiar nela e amadurecer com seus conselhos ocultos. Fui percebendo aos poucos que essa voz nunca gritava, aliás, quase nunca se pronunciava, mas, mesmo quando muda, ela dizia mais do que as outras.
    E aqui está ela a dizer, em seu silêncio discreto e profundo, que tudo o que preciso é saber ouvir a única voz que nunca pediu para ser ouvida e que ainda não conheço, porque me preocupei muito em ouvir as demais. Suponho que essa voz a quem ela se refere seja a minha única voz "sonora". Aquela que todos fora de mim ouvem, enquanto eu tento controlar a multidão tagarela aqui de dentro.
    Mas pensando comigo mesma, ou melhor, conversando com uma das tantas vozes que tenho, e talvez a mais disposta a responder prontamente, sem rodeios, há e não há sentido nessa solução que me foi dada. Seria correto ignorar todos os que me falam e partir em busca de um novo som? Deve haver um motivo mais coerente para tantas personalidades dentro de uma só pessoa, que vai mais além do que servir de obstáculo no caminho para a personalidade ideal.
    Aí eu me pergunto o mesmo que Serena (assim denominei minha apreciável companheira de quietude). Que diabos eu sou para ter tantas vozes?
    Pela primeira vez não encontrei uma definição metafórica para sustentar minhas hipóteses. Só me veio uma palavra à cabeça: humana. Todo ser humano tem várias faces, umas mais tristes, outras mandonas, algumas perversas e malignas. Certas faces são duvidosas, indecisas, desconfiadas, enquanto outras fazem de tudo para plantar nas outras a mesma convicção que têm. Creio também que existem momentos de completa solidão, quando todas as vozes silenciam, cansadas, ou somente por acharem melhor assim. Mas ainda existe uma voz que pode falar nesse momento, ela só está esperando que a chamem.
    Estou tentando fazer isso agora. Eu a ouço, peço para continuar. Apesar de tímida, ela faz um esforço e acata o meu pedido. Começa a falar mais alto, de uma forma que soe bonito. Pensa em recitar algo, um poema, quem sabe. Vai mais longe e arrisca cantar. Percebe então que quando está dizendo, todas as outras se calam, e assim que ela emudece, as outras voltam, um pouco adormecidas.
    ...
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    Nada do que diz se transforma em palavras capazes de serem escritas. Antes disso, o vento as leva, criando um sonido afável, com um timbre familiar e acolhedor. E essa voz vai dizendo, cantando, procurando a melhor forma de se manifestar, e em tempos cala, permitindo que as outras deixem-me registrar algo numa folha de papel.
    Só temo que algum ruído externo venha atrapalhar essa experiência tão boa. Temo que, ao tentar dividir espaço com outra voz, a minha torne a se acanhar e fique muda mais uma vez. Todas as vezes são assim, na verdade, eu sempre a conheci, porém, ora ou outra, eu esqueço como ela é. Esqueço como chamá-la. Esqueço como fazer para convencê-la que o real espectador não deve ser eu, mas os outros que, de mim, só têm ela para ouvir. 

Um comentário:

  1. Não querendo ser muito direto, a julgar por esses primeiros capítulos, esse seu novo livro pode ser um best-seller na categoria "livro-discípulo de Paulo Coelho". De onde vem toda essa inspiração, linda???? Parabéns, mais uma vez!!!!!

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