Quem me dera se eu pudesse deixar de pensar por alguns minutos. Isso resolveria muita coisa: aliviaria a dor de cabeça, daria folga aos neurônios que trabalham dia e noite sem uma folga sequer, acalentaria a alma e o corpo, que estão sempre em colisão.
Queria também poder parar de procurar tantas vozes dentro de mim, pois existe um mundo lá fora que deve ter algo útil para mostrar. Não sei se sou ouvinte ou oradora, mas sei que cansei dessa companhia diária de vozes, todas elas com o mesmo som, apenas encenando personagens com características diferentes. Para que todo esse egocentrismo? Eu, eu, eu, eu... chega! Existem pessoas importantes no mundo, e eu garanto, não estão dentro de mim.
E que papo é esse de que não me dou valor, de que estou longe de ser narcisista? Uma pessoa que olha para seu próprio umbigo o dia todo tentando encontrar uma passagem para o lado de dentro não pode ser alguém modesto. Estou enjoada desse meu jeito de ser, sim, estou revoltada!
Em meus primeiros três monólogos me senti um fracasso. Até hoje não sei definir quem sou; ouvi e vi a razão barrando meus sentimentos enquanto eu, com toda a minha covardia, não conseguia me impor; nadei, nadei, nadei e dei de cara com uma rocha, e a voz que cantava feliz levou um susto com tamanho estrondo e foi se esconder mais uma vez. A única conclusão que tive, depois de tanto, foi a mais óbvia de todas: eu vivo em um mundo de ilusões, sou fraca, desordenada e, o pior de tudo, vivo forjando uma couraça soberba que me esconde e apresenta alguém totalmente diferente.
Faz um bom tempo que me cansei, tanto que venho percebendo uma efêmera mudança de comportamento. De uns tempos para cá, essa couraça começou a apresentar uma mecânica diferente, um pouco menos segura e muito mais reveladora. Contudo, ainda assim estou longe de deixar escapar meus estimados anjos e demônios.
Sei de mais uma coisa: minhas lamentações e essa repentina revolta não cessarão tão facilmente. Quando tento não pensar, automaticamente, estou me propondo a fazer o oposto. e essas vozes que me perseguem como fantasmas nunca irão me deixar em paz, ora bolas, elas são meus pensamentos.
Enfim, quando não se pode derrotar um inimigo, a solução é juntar-se a ele, esse é o lema. Então, por que não aceitá-lo?! Chegou a hora de mudar de tática, levar o que estava sério com ainda mais rigor, dar a cara pra bater e atravessar o tapete vermelho - branco, azul, verde, amarelo... - que se estende a minha frente, até porque, sei que existem arautos gritando "Abram alas" do lado oposto da minha sombra.
Vozes, corpo, mente, espírito e qualquer espectador que esteja ouvindo esse discurso descabeçado, sinto em informar que tudo o que disse até aqui não passou do prólogo, e a história em si, com seu sem-número de capítulos, começa a se desenrolar agora. Abram alas, como disseram, pois trago uma legião colossal de anjos e demônios que batalham entre si sobre meus ombros; pois calço meus pés no chão e caminho firme, sem medo de tropeçar em uma pedra, de me afundar numa poça d'água.
E não se deixe enlouquecer no meio da peça. São muitos personagens, eu admito, mas somos todos iguais no fim das contas. Posso, com toda sinceridade, estar me revelando esquizofrênica rápido demais, mas os loucos são sábios!
Hoje, a água encontrou a rachadura que precisava para escapar.
Hoje, a caixa vermelha se abriu, e muitos presentes correm para seus felizardos.
Hoje, Serena está muda, e minha voz também. Mas, ainda assim, sei que me esperam, e eu vou além do que qualquer um pode imaginar.
Isso sim é que é texto de auto-ajuda. Ficou ótimo, como sempre......
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